É improvável que a resposta surja na Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP28), que este ano se realiza no Dubai, organizada por um petroestado, e que poderá resultar num compromisso político de eliminação progressiva dos combustíveis fósseis, mas não traçará o caminho para um futuro sem combustíveis fósseis. Para abordar o que o secretário-geral da ONU António Guterres apelidou de “a raiz envenenada da crise climática”, temos de olhar além da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (CQNUAC) para criar novos fóruns adequados a este objetivo.
A má notícia é que a indústria dos combustíveis fósseis, impulsionada por lucros recorde na sequência da invasão russa da Ucrânia, parece impermeável a essa pressão. E o pior é que estes lucros colossais estão a ser reinvestidos em mais exploração de petróleo e gás. À medida que os desastres climáticos se intensificam diante dos nossos olhos, o setor responsável por quase 90% das emissões de dióxido de carbono está a apostar que os seus produtos poluentes serão um pilar fundamental da economia mundial nas próximas décadas.
Para forçar uma mudança, temos de expor a fragilidade económica que a dependência dos combustíveis fósseis cria e o seu impacto mais amplo nos direitos humanos. A dependência do petróleo, do gás e do carvão torna as comunidades mais vulneráveis a ruturas no abastecimento, afetando tudo, desde o aquecimento e transportes até aos preços dos alimentos. Estas perturbações afetam de forma mais dura as populações mais pobres, mas ao mesmo tempo aumentam os lucros do setor.
Vale a pena recordar que as empresas de combustíveis fósseis tiveram um desempenho inferior ao do mercado durante os dez anos que antecederam a guerra na Ucrânia. Essa década de declínio refletiu as tendências de longo prazo da transição energética que o recente aumento dos lucros não alterou. Com o pico da procura de combustíveis fósseis previsto para 2030, o petróleo e o gás continuam a ser uma má aposta.
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Parte do problema reside no facto de os governos terem respondido à volatilidade dos preços com o aumento dos subsídios aos combustíveis fósseis, em vez de imporem impostos inesperados. Além disso, continuaram a aprovar novos projetos de petróleo e gás, inclusive no mar em áreas oceânicas protegidas. A produção planeada é o dobro do que é compatível com o objetivo de limitar o aquecimento global a 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais; simplesmente não há margem para novos fornecimentos de petróleo e gás se o mundo quiser evitar uma catástrofe climática.
Os combustíveis fósseis só parecem competir com as energias renováveis cada vez mais baratas porque a sua produção foi subsidiada e os seus produtores foram isolados dos custos associados aos danos que causam. As externalidades negativas da indústria, há muito suportadas pelas comunidades da linha da frente, estão agora a ser impostas às pessoas em todo o mundo sob a forma de incêndios florestais, furacões, inundações e secas. Se obrigássemos as empresas de combustíveis fósseis a assumir as perdas que há muito previram e redirecionássemos os fundos públicos para soluções renováveis, os ativos de petróleo e gás seriam expostos como os passivos que são.
Isto aponta para outro grande problema: a captura corporativa. Embora o litígio climático seja fundamental para responsabilizar o setor, o desafio não é apenas fazer com que os poluidores paguem pelos danos que causam. Temos, também, de diminuir a sua enorme influência na política climática. Apesar das melhores iniciativas que partem de movimentos como o Kick Big Polluters Out, a indústria dos combustíveis fósseis não só tem um lugar nas conversações climáticas deste ano, como está à cabeceira da mesa.
É que aí que se senta o sultão Al Jaber, CEO da companhia petrolífera nacional dos Emirados Árabes Unidos, que tem atualmente os seus próprios planos de expansão. Al Jaber, presidente da COP28, está empenhado em apresentar o setor dos combustíveis fósseis como o herói, e não o vilão, na luta contra as alterações climáticas. No entanto, essa é uma estratégia de sobrevivência bem conhecida de uma indústria em declínio a longo prazo. O mesmo se passa com a defesa dos Emirados Árabes Unidos por uma abordagem do tipo “não fica nada de fora”, que promove as energias renováveis como um complemento aos combustíveis fósseis, e não um substituto, e que defende a captura de carbono e as compensações, apesar da abundância de provas de que nenhuma delas conduz a reduções significativas das emissões.
Ao contrário do que Al Jaber sugeriu no início deste ano, o problema não está apenas nas emissões dos combustíveis fósseis; está nos próprios combustíveis fósseis. O facto de nos centrarmos apenas no carbono, ignora todos os todos os outros efeitos negativos dos combustíveis fósseis, inclusive o seu impacto na saúde, como as oito milhões de mortes prematuras anuais causadas pela poluição atmosférica.
Embora os combustíveis fósseis sejam esmagadoramente culpados pelas alterações climáticas, o nosso regime climático liderado pela CQNUAC não conseguiu lidar com eles, antes mesmo de a indústria ter ficado com o poder nas mãos. Durante décadas, o organismo internacional que deveria estar a liderar a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis evitou claramente a questão. Nem a Convenção das Nações Unidas sobre o Clima de 1992 nem o Acordo de Paris sobre o Clima de 2015 mencionam o petróleo, o gás ou o carvão.
Esta omissão não foi um descuido casual. É um sintoma de uma crise mais profunda na governação climática mundial. Uma vez que as decisões da CQNUAC exigem um consenso entre 198 membros, os países poderosos podem bloquear o progresso e assegurar resultados que se ajustem ao menor denominador comum, ou mesmo nenhum.
A COP28 sublinha ainda mais a necessidade de processos alternativos para gerir o declínio dos combustíveis fósseis, livres da influência daqueles que lucram com eles. Todos os dias surgem novos lembretes da necessidade de eliminar gradualmente o petróleo, o gás e o carvão. Felizmente, iniciativas como o Tratado de Não Proliferação de Combustíveis Fósseis, a Aliança para Além do Petróleo e do Gás e o Global Parliamentarians’ Inquiry oferecem novas ideias sobre como o fazer. Os governos têm de se comprometer com um fórum dedicado à eliminação progressiva dos combustíveis fósseis para que o verdadeiro trabalho de pôr fim à era dos combustíveis fósseis possa começar.
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For almost a year, many hoped that Israel's war with Hamas would not spread beyond Gaza. But attacks on northern Israel by Hezbollah in southern Lebanon, and now the decision by both groups' backer, Iran, to fire ballistic missiles at Israel, has made a regional conflict all but inevitable.
explains why the fighting between Israel and Hamas has escalated into a regional conflict involving Iran.
WASHINGTON, DC – Entre ondas de calor recorde, eventos climáticos extremos cada vez mais intensos e dispendiosos, e alertas cada vez mais assustadores de que as alterações climáticas estão literalmente a matar-nos, os apelos para o abandono dos combustíveis fósseis são cada vez mais fortes. Mas a indústria dos combustíveis fósseis está a duplicar os seus investimentos em novos projetos de petróleo e gás e em grandes fusões empresariais, voltando atrás nas suas promessas climáticas e fazendo falsas promessas de que podem continuar a dar à bomba sem poluir. Temos de nos livrar dos combustíveis fósseis. Mas como?
É improvável que a resposta surja na Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP28), que este ano se realiza no Dubai, organizada por um petroestado, e que poderá resultar num compromisso político de eliminação progressiva dos combustíveis fósseis, mas não traçará o caminho para um futuro sem combustíveis fósseis. Para abordar o que o secretário-geral da ONU António Guterres apelidou de “a raiz envenenada da crise climática”, temos de olhar além da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (CQNUAC) para criar novos fóruns adequados a este objetivo.
A boa notícia é que Guterres, o Papa, inúmeros governos nacionais e organismos como a Agência Internacional de Energia juntaram-se ao crescente apelo mundial para uma eliminação progressiva do carvão, do petróleo e do gás. Na Cimeira das Nações Unidas sobre a Ambição Climática, em setembro, os governos reconheceram que a crise climática é uma crise dos combustíveis fósseis. A questão não é se devemos abandonar o petróleo e o gás, mas sim como.
A má notícia é que a indústria dos combustíveis fósseis, impulsionada por lucros recorde na sequência da invasão russa da Ucrânia, parece impermeável a essa pressão. E o pior é que estes lucros colossais estão a ser reinvestidos em mais exploração de petróleo e gás. À medida que os desastres climáticos se intensificam diante dos nossos olhos, o setor responsável por quase 90% das emissões de dióxido de carbono está a apostar que os seus produtos poluentes serão um pilar fundamental da economia mundial nas próximas décadas.
Para forçar uma mudança, temos de expor a fragilidade económica que a dependência dos combustíveis fósseis cria e o seu impacto mais amplo nos direitos humanos. A dependência do petróleo, do gás e do carvão torna as comunidades mais vulneráveis a ruturas no abastecimento, afetando tudo, desde o aquecimento e transportes até aos preços dos alimentos. Estas perturbações afetam de forma mais dura as populações mais pobres, mas ao mesmo tempo aumentam os lucros do setor.
Vale a pena recordar que as empresas de combustíveis fósseis tiveram um desempenho inferior ao do mercado durante os dez anos que antecederam a guerra na Ucrânia. Essa década de declínio refletiu as tendências de longo prazo da transição energética que o recente aumento dos lucros não alterou. Com o pico da procura de combustíveis fósseis previsto para 2030, o petróleo e o gás continuam a ser uma má aposta.
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Parte do problema reside no facto de os governos terem respondido à volatilidade dos preços com o aumento dos subsídios aos combustíveis fósseis, em vez de imporem impostos inesperados. Além disso, continuaram a aprovar novos projetos de petróleo e gás, inclusive no mar em áreas oceânicas protegidas. A produção planeada é o dobro do que é compatível com o objetivo de limitar o aquecimento global a 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais; simplesmente não há margem para novos fornecimentos de petróleo e gás se o mundo quiser evitar uma catástrofe climática.
Os combustíveis fósseis só parecem competir com as energias renováveis cada vez mais baratas porque a sua produção foi subsidiada e os seus produtores foram isolados dos custos associados aos danos que causam. As externalidades negativas da indústria, há muito suportadas pelas comunidades da linha da frente, estão agora a ser impostas às pessoas em todo o mundo sob a forma de incêndios florestais, furacões, inundações e secas. Se obrigássemos as empresas de combustíveis fósseis a assumir as perdas que há muito previram e redirecionássemos os fundos públicos para soluções renováveis, os ativos de petróleo e gás seriam expostos como os passivos que são.
Isto aponta para outro grande problema: a captura corporativa. Embora o litígio climático seja fundamental para responsabilizar o setor, o desafio não é apenas fazer com que os poluidores paguem pelos danos que causam. Temos, também, de diminuir a sua enorme influência na política climática. Apesar das melhores iniciativas que partem de movimentos como o Kick Big Polluters Out, a indústria dos combustíveis fósseis não só tem um lugar nas conversações climáticas deste ano, como está à cabeceira da mesa.
É que aí que se senta o sultão Al Jaber, CEO da companhia petrolífera nacional dos Emirados Árabes Unidos, que tem atualmente os seus próprios planos de expansão. Al Jaber, presidente da COP28, está empenhado em apresentar o setor dos combustíveis fósseis como o herói, e não o vilão, na luta contra as alterações climáticas. No entanto, essa é uma estratégia de sobrevivência bem conhecida de uma indústria em declínio a longo prazo. O mesmo se passa com a defesa dos Emirados Árabes Unidos por uma abordagem do tipo “não fica nada de fora”, que promove as energias renováveis como um complemento aos combustíveis fósseis, e não um substituto, e que defende a captura de carbono e as compensações, apesar da abundância de provas de que nenhuma delas conduz a reduções significativas das emissões.
Ao contrário do que Al Jaber sugeriu no início deste ano, o problema não está apenas nas emissões dos combustíveis fósseis; está nos próprios combustíveis fósseis. O facto de nos centrarmos apenas no carbono, ignora todos os todos os outros efeitos negativos dos combustíveis fósseis, inclusive o seu impacto na saúde, como as oito milhões de mortes prematuras anuais causadas pela poluição atmosférica.
Embora os combustíveis fósseis sejam esmagadoramente culpados pelas alterações climáticas, o nosso regime climático liderado pela CQNUAC não conseguiu lidar com eles, antes mesmo de a indústria ter ficado com o poder nas mãos. Durante décadas, o organismo internacional que deveria estar a liderar a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis evitou claramente a questão. Nem a Convenção das Nações Unidas sobre o Clima de 1992 nem o Acordo de Paris sobre o Clima de 2015 mencionam o petróleo, o gás ou o carvão.
Esta omissão não foi um descuido casual. É um sintoma de uma crise mais profunda na governação climática mundial. Uma vez que as decisões da CQNUAC exigem um consenso entre 198 membros, os países poderosos podem bloquear o progresso e assegurar resultados que se ajustem ao menor denominador comum, ou mesmo nenhum.
A COP28 sublinha ainda mais a necessidade de processos alternativos para gerir o declínio dos combustíveis fósseis, livres da influência daqueles que lucram com eles. Todos os dias surgem novos lembretes da necessidade de eliminar gradualmente o petróleo, o gás e o carvão. Felizmente, iniciativas como o Tratado de Não Proliferação de Combustíveis Fósseis, a Aliança para Além do Petróleo e do Gás e o Global Parliamentarians’ Inquiry oferecem novas ideias sobre como o fazer. Os governos têm de se comprometer com um fórum dedicado à eliminação progressiva dos combustíveis fósseis para que o verdadeiro trabalho de pôr fim à era dos combustíveis fósseis possa começar.