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As duas faces do livre comércio

CAMBRIDGE – Poucos termos em economia são tão ideologicamente carregados quanto “livre comércio”. Defenda-o hoje, e é provável que você seja considerado um apologista de plutocratas, financistas e corporações irresponsáveis. Defenda fronteiras econômicas abertas e você será rotulado de ingênuo ou, pior, fantoche do Partido Comunista da China que se importa pouco com os direitos humanos ou com o destino dos trabalhadores comuns em casa.

Tal como acontece com todas as caricaturas, há um grão de verdade na postura antinegociação. O comércio crescente contribuiu de fato para o aumento da desigualdade e a erosão da classe média nos Estados Unidos e em outras economias avançadas nas últimas décadas. Se o livre comércio ganhou má fama, é porque os impulsionadores da globalização ignoraram suas desvantagens ou agiram como se nada pudesse ser feito a respeito. Esse ponto cego capacitou demagogos como Donald Trump a instrumentalizar o comércio e satanizar minorias raciais e étnicas, imigrantes e rivais econômicos.

Mas a antipatia em negociar não é propriedade exclusiva dos populistas de direita. Também inclui esquerdistas radicais, ativistas climáticos, defensores da segurança alimentar, ativistas dos direitos humanos, sindicatos, defensores dos consumidores e grupos anticorporativos. O próprio presidente dos EUA, Joe Biden, tem visivelmente se distanciado do livre comércio. Seu governo acredita que a construção de uma economia americana segura, verde, justa e resiliente deve ter precedência sobre a hiperglobalização. Todos os progressistas, ao que parece, creem que o livre comércio atrapalha a justiça social, independentemente de como é entendido.

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