morsy4_ Alet PretoriusGallo Images via Getty Images_africadebt Alet Pretorius/Gallo Images via Getty Images

Reformar a arquitetura global da dívida

ADIS ABEBA – Uma em cada cinco pessoas em todo o mundo vive em países que estão em situação, ou em risco, de endividamento. Dois terços dos países de baixo rendimento – a maioria em África – inserem-se nesta categoria, sendo que oito dos nove países que, atualmente, se encontram em situação de endividamento situam-se no continente.

Uma confluência de fatores criou esta crise crescente da dívida. Com populações em expansão e enormes necessidades de infraestruturas, juntamente com o declínio da disponibilidade de ajuda pública ao desenvolvimento e de financiamento em condições favoráveis, os governos africanos aproveitaram as taxas de juro historicamente baixas na década de 2010 e contraíram grandes empréstimos nos mercados de capitais internacionais e na China. Consequentemente, os saldos da dívida mais do que duplicaram entre 2010 e 2020.

Mas essa dívida tornou-se muito mais dispendiosa. Desde 2020, o continente tem sido atingido por uma série de choques exógenos. A COVID-19, a guerra na Ucrânia e o agravamento das condições climatéricas confrontaram muitos governos africanos com descidas de notação de crédito, o que aumentou rapidamente os seus custos de empréstimo e tornou o acesso aos mercados internacionais de dívida proibitivamente caro. Além disso, os aumentos substanciais das taxas de juro da Reserva Federal dos EUA, desde março de 2022, causaram um duplo golpe nos países africanos, cujos empréstimos são maioritariamente denominados em dólares: os custos do serviço da dívida subiram e a taxa de câmbio do dólar das suas moedas desceu. Em 2024, os países africanos gastarão cerca de 74 mil milhões de dólares com o serviço da dívida, em contraste com os 17 mil milhões de dólares em 2010. Dois Estados – Gana e Zâmbia – já entraram em incumprimento, enquanto o Chade e a Etiópia estão em negociações de reestruturação.

https://prosyn.org/0JtMFILpt