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A maldição dos recursos do Níger ao estilo colonial

CAIRO – Desde a destituição do presidente Mohamed Bazoum, em julho, que o Níger, um Estado da África Ocidental sem litoral, se encontra numa situação difícil. Talvez a única coisa boa resultante do golpe de Estado – o último de uma série de tomadas de poder por militares no Sahel – seja o facto de ter centrado a atenção internacional no país, que até então era relativamente estável e democrático.

O interesse renovado pela situação do Níger oferece uma oportunidade para refletir sobre os principais desafios de desenvolvimento com que se confronta uma região vasta e conturbada. O principal deles é a persistência do modelo de desenvolvimento colonial de extração de recursos, que conduziu à pobreza intergeracional e à degradação ambiental – ambas alimentando a insegurança e a migração – também noutros países africanos.

O Níger encarna o paradoxo do desenvolvimento em África. Apesar da sua imensa riqueza em recursos naturais, incluindo abundantes fontes de energia renováveis e não renováveis e jazidas significativas de urânio e ouro, é um dos países mais pobres do mundo, com mais de dez milhões de pessoas (cerca de 42% da população) a viver em pobreza extrema. Quase metade das crianças do Níger não frequenta a escola, em grande parte devido às deslocações em massa e ao encerramento de escolas causados pelo aumento da violência. Não é de surpreender que o país esteja classificado em último lugar no Índice de Desenvolvimento Humano do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, à frente apenas do Chade e do Sudão do Sul.

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