Um mundo em tons de cinza

CAMBERRA - Václav Havel, o dramaturgo e dissidente checo que se tornou presidente e o déspota norte-coreano Kim Jong-il podiam ter vivido em planetas diferentes, por todos os seus compromissos com a dignidade humana, direitos e democracia. Quando eles morreram, neste mês, apenas com um dia de diferença, foi difícil para os comentadores, a nível mundial, resistirem ao contraste: O príncipe da luz de Praga contra o príncipe das trevas de Pyongyang.

Mas vale a pena recordar que o rotular do bem versus o mal do maniqueísmo, ao qual o ex-presidente norte-americano George W. Bush e o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair eram notoriamente propensos e o qual nós tivemos uma espécie de ressurgimento nos últimos dias, carrega dois grandes riscos para os responsáveis políticos internacionais.

Um risco é que tal pensamento limita as opções para lidar eficazmente com aqueles que são projetados como irremediavelmente malévolos. O fiasco da invasão do Iraque liderada pelos Estados Unidos, em 2003, deveria ter-nos ensinado, de uma vez por todas, sobre o perigo de falar somente através do cano de uma arma para aqueles cujo comportamento nos repugna.

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