América, a Desigual

PARK CITY, UTAH – O último documentário a utilizar gráficos e estatísticas áridas para sustentar uma posição abstracta sobre um tema global e não obstante tornar-se num êxito da cultura pop foi Uma Verdade Inconveniente de Al Gore. Mas o êxito do Festival de Cinema de Sundance deste ano coube a uma obra mais moderada, intitulada Desigualdade para Todos, na qual Robert Reich, um secretário do emprego na administração Clinton, explica como a crescente desigualdade no rendimento e o desaparecimento da classe média está a causar sofrimento a tantos Americanos.

Após o Presidente Barack Obama ter abordado recentemente alguns destes assuntos no seu segundo discurso inaugural, vale a pena examinar a mensagem de Desigualdade para Todos mais de perto. Os gráficos do filme não são enfadonhos, sendo antes dignos de aplauso: Reich defende que o período entre os meados da década de 1940 e os meados da década de 1970 foram décadas de relativa igualdade de rendimentos, que corresponderam a uma abastança generalizada. (A última vez que a desigualdade de rendimentos nos Estados Unidos foi tão acentuada como hoje, foi imediatamente antes da crise bolsista de 1929.)

Mas os últimos 20 anos testemunharam um crescimento acentuado na diferença entre os detentores de maiores rendimentos e a classe média: os “1%” vivem realmente numa bolha estratosférica. Como a jornalista Chrystia Freeland defendeu recentemente, está a emergir uma meta-classe de “plutocratas” globais – pessoas que têm pouco em comum com o resto de nós.

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