Big Data para estudantes pobres

WASHINGTON, DC – Os países precisam de pessoas qualificadas e talentosas para gerarem as inovações que sustentam o crescimento económico a longo prazo. Isto tanto é verdade nas economias desenvolvidas como nas economias em desenvolvimento. Mas isso não irá acontecer sem investimento na educação e na formação. Se quisermos acabar com a pobreza, reduzir o desemprego e lutar contra a crescente desigualdade económica, temos de encontrar formas novas, melhores e mais baratas de ensinar - e em grande escala.

Este objectivo pode parecer estar até mesmo além das possibilidades dos países mais ricos; mas a inteligente recolha, análise e uso de dados educacionais podem fazer uma grande diferença. E, felizmente, vivemos numa época na qual a tecnologia da informação dá-nos as ferramentas certas para ampliarmos o acesso à educação acessível e de elevada qualidade. O Big data - conjuntos de dados de elevados volumes e complexos que as empresas usam para analisarem e preverem o comportamento do consumidor - pode fornecer aos professores e às empresas quantidades de informação sem precedentes sobre os padrões de aprendizagem dos estudantes, ajudando as escolas a personalizarem o ensino de formas cada vez mais sofisticadas.

O Grupo do Banco Mundial e a sua secção de empréstimos do sector privado, a Corporação Financeira Internacional (CFI), estão a tentar explorar este potencial para apoiarem os sistemas de educação nacionais. Uma iniciativa recentemente lançada, conhecida como o programa SABER (Systems Approach for Better Education Results), recolhe e partilha dados comparativos sobre as políticas educacionais e instituições de países de todo o mundo.

No sector privado, a capacidade de recolher informação sobre a interacção professor-aluno e a interacção entre os alunos e os sistemas de aprendizagem, pode ter um impacto muito grande. No Quénia, por exemplo, a cadeia de escolas Bridge International Academies está a utilizar a aprendizagem adaptável em larga escala. Cliente da CFI fundada por três empresários americanos, a Bridge dirige 259 infantários e escolas primárias, com uma mensalidade média de seis dólares. É um enorme laboratório de aprendizagem tanto para os estudantes como para os educadores.

A Bridge testa diferentes abordagens para o ensino de competências e conceitos padronizados, implantando duas versões de uma aula em simultâneo num grande número de salas de aula. As aulas são dadas por professores através de planos padronizados e escritos, via tablets, que também controlam o tempo que os professores gastam em cada aula. Os resultados dos exames são registados no tablet do professor, com mais de 250 mil resultados lançados a cada 21 dias. A partir destes dados, a equipa de avaliação da Bridge determina qual é a aula mais eficaz e distribui essa aula pela restante rede da Academia.

Sabemos que muitos problemas podem fazer com que o desempenho do aluno diminua - o calor abrasador do Verão nas salas de aula, sem ar condicionado, problemas em casa ou professores de baixa qualidade, para citar alguns. Mas quando se reúnem resultados em grande escala, as variáveis esbatem-se e as diferenças importantes surgem. Esse é o grande valor do big data.

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Outro caso é a SABIS, um fornecedor do ensino K-12 nos Estados Unidos da América, na Europa, na Ásia, no Médio Oriente e no Norte de África. A SABIS recorre a grandes conjuntos de dados para garantir elevados padrões e melhorar o desempenho académico a mais de 63 mil estudantes. O acompanhamento contínuo do desempenho anual académico dos estudantes produz mais de 14 milhões de pontos de dados que são usados para moldar o ensino, alcançar objectivos de aprendizagem e assegurar a consistência em toda a rede de escolas da empresa em 15 países.

A Knewton, uma plataforma de aprendizagem adaptável que personaliza cursos digitais utilizando a análise preditiva, é outra empresa na vanguarda da revolução de dados. Com conteúdos e ensino adaptados, até mesmo as salas de aula que não têm os recursos das escolas privadas podem proporcionar uma aprendizagem individual. Como resultado, os professores passam o seu tempo da forma mais eficaz possível - resolvendo problemas com os alunos - em vez de darem aulas não diferenciadas.

Estes benefícios não estão isentos de riscos. Estamos apenas a começar a lidar com o facto de como o tremendo potencial do big data para a aprendizagem pode ser aproveitado ao mesmo tempo que protege a privacidade dos alunos. Em alguns casos, a tecnologia de recolha de dados está a ultrapassar a nossa capacidade de decidir como devem ser recolhidos, armazenados e partilhados. Não importa o quão rigoroso os dados são protegidos; ainda existe a necessidade de uma estrutura transparente de licenciamento para o seu uso. Em muitos países em desenvolvimento, não existem quaisquer regulamentos para a privacidade de dados.

O ponto de ligação entre os dados e a educação mantém a promessa de novos produtos educacionais para a melhoria da aprendizagem, com grandes benefícios potenciais, especialmente para os pobres. Para concretizar esses benefícios - e fazê-lo de forma responsável - temos de assegurar que a recolha de dados não é excessiva nem imprópria e que apoia a aprendizagem. O sector privado, governos e instituições, como o Grupo do Banco Mundial precisam de formular regras sobre como a informação crucial em relação ao desempenho dos alunos é reunida, partilhada e usada. Os pais e os alunos não merecem menos do que isso.

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